terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Erosão Costeira em Maceió



PRAIAS: Recurso Renovável em Extinção
Mauricio Aquino é Médico Veterinário e Ambientalista. Cursa especialização em Docência de Nível Superior no CESMAC e seu TCC é em Educação Ambiental.

Atualmente 70% do litoral no mundo inteiro estão sofrendo um fenômeno, relativamente recente à nossa percepção, denominado Erosão Costeira. Não que este seja um fenômeno novo, pois não é! O que nos choca é a sua aparente intensidade, recentemente e sem dúvida, a sua capacidade de gerar prejuízos.
A linha da costa, ou a praia, como é popularmente conhecida, sem dúvida é uma das feições mais dinâmicas do planeta. Sua posição muda diariamente e são muitos os fatores que interferem nessas mudanças, alguns naturais, intimamente ligados ao balanço de sedimentos, variações do nível relativo do mar, dispersão de sedimentos e outros ligados a intervenção humana na zona costeira, como as obras de engenharia, represamento de rios, dragagens, etc.
Como resultado da interação desses fatores, naturais ou não, a linha da costa se comporta de três maneiras: pode permanecer em equilíbrio (o que estávamos acostumados a ver até alguns anos); recuar em direção aos continentes (com o que estamos nos acostumando a ver mais recentemente) e finalmente, avançar em direção ao mar (o que todos, certamente, gostaríamos de ver).

Quando a linha recua em direção ao continente presenciamos a “erosão”.
Esse processo só se torna um problema quando o homem constrói algum tipo de referencial fixo, estrada, prédio ou outro tipo de construção permanente, interpondo-se na trajetória de recuo da linha de maré.
Portanto é possível dizer que a erosão é sobre certos aspectos, produzida pelo homem e pelo seu hábito em ocupar terrenos próximos as linhas de costa oceânicas.
Se fosse respeitada a área de influência das marés, esse fenômeno não seria prejudicial e talvez, passasse, inclusive, despercebido pela maioria da população.
O problema da erosão pode ocorrer também em praias de corpos d’água interiores, como em lagoas e lagunas (Mundaú e Manguaba).
Há que se esclarecer que a erosão não implica na destruição da praia arenosa também, chamada de recreativa, pois a posição da praia apenas muda com o avanço de mar, não desaparece!
A perda da praia arenosa ocorre quando o homem interfere nesse processo, tentando deter o avanço do mar, realizando obras de engenharia que, tem se mostrado na prática, ineficientes, em controlar o fenômeno e via de regra é o que implica na destruição das praias. Esse fenômeno é bastante comum em Recife, Fortaleza e agora, de uns anos para cá, também em Maceió.
São obras caras, usadas em casos mais extremos que favorecem o patrimônio, público ou privado, mas que frustra os freqüentadores das praias sejam eles nativos ou turistas, à medida que perdem suas áreas de recreação.
Não há como através de dados científicos, ainda, associar a erosão do litoral ao aumento do nível do mar, muito embora nem os pesquisadores mais sépticos descartem essa possibilidade. O que se estuda é que provavelmente, o problema é mais grave no hemisfério norte, especialmente, se confirmado, nos próximos anos, o derretimento da Antártida ocidental.
O que podemos afirmar, hoje, intuitivamente falando, é que o clima está mudando muito rapidamente com o aumento da temperatura média em todo o planeta. E o calor, trás o desgelo.
Estima-se que o nível dos oceanos já subiu, no último século, entre 10 a 15 centímetros e as intervenções realizadas por particulares ou municípios, na tentativa de conter o recuo da linha costeira, são realizadas de forma, muitas vezes, desordenada, com a construção de muros ou espigões nas áreas criticamente atingidas, normalmente, implicando em elevados prejuízos financeiros e estéticos, quase sempre, levando a perda das praias de recreação, aliás, locais democráticos e acessíveis a toda a população, independentemente de situação financeira ou preconceitos de qualquer espécie.
De todos os métodos pesquisados e utilizados, atualmente, o engordamento das praias com a reposição da areia perdida, tem sido o mais recomendado e, infelizmente, o menos utilizado. Mesmo assim, não podemos nos esquecer que esse é um paliativo e não uma solução definitiva.
Ressalto que, por ser este um fenômeno de percepção recente, não existe legislação específica no Brasil que contemple o fenômeno do recuo da linha de costa. Entretanto, as que existem já poderiam ter ajudado a minimizar o problema, mas não são obedecidas. A lei diz que temos que evitar para a ocupação humana, uma faixa de praia de largura variável entre 33 a 300 metros, a partir da preamar máxima, criados com objetivos diversos de protegerem a vegetação de restinga, garantir o livre acesso da população às praias, e os chamados terrenos de marinha.
Fato é que não existem estratégias oficiais para o enfrentamento do problema: a intervenção seja e caráter particular ou municipal tem servido apenas para agravar o problema, os terrenos de marinha não são respeitados e os órgãos responsáveis pelos estudos dos impactos não são, em sua maioria, comprometidos com o meio ambiente.
Maceió recebe, hoje, milhares de turistas todos os anos que sustentam uma ampla cadeia econômica representada por hoteleiros, comerciantes, donos de restaurantes, que empregam um grande número de trabalhadores formais e sustenta um número muito maior de informais. Hoje, as praias da capital ou estão desaparecendo rapidamente, espremidas entre as obras de contenção e o avanço do mar, ou estão se tornando lixões a céu aberto devido à ocupação desordenada de ambulantes, freqüentadores sem consciência e restaurantes que confundem a areia ou o calçadão da orla, com objetos de propriedade pessoal e particular.
Hoje, ir à praia na Pajuçara ou Ponta Verde, apenas para citar as mais próximas, é uma tarefa complicada, pois estão tomadas, quase que completamente, especialmente nos fins-de-semana, por mesas e cadeiras plásticas, cadeiras de praia e guarda-sóis, que só podem ser utilizadas mediante o pagamento de aluguel ou através do consumo de bebidas e tira-gostos, preparados sem os devidos cuidados ou a devida fiscalização dos órgãos competentes.
Para a maioria dos agentes de turismo, “turismo ecológico” é, no máximo, conduzir o turista à praia, não se importando na grande maioria das vezes, nem pela orientação para o recolhimento do próprio lixo gerado.
O resultado do conjunto é visível a todos, uma areia suja, escura, oleosa, repleta de restos de comida que atraem cães, gatos, ratos e baratas, especialmente, à noite, além de centenas de pombos pela manhã. Faz-se necessário dizer que tais animais e insetos, urinam e defecam nesses locais, criando condições ideais para a proliferação de agentes etiológicos perigosos e a transmissão de enfermidade a toda a população de freqüentadores.
Se Maceió não tratar do problema de suas praias, hoje, a sua única fonte de divisas, proveniente do turismo, dando, condições, para que o turista desfrute também de segurança pública, agravará a sua já precária situação financeira pela que passa o nosso estado.

Um comentário:

  1. Ficou ótima a página. E o tema causa trata de uma realidade assustadora. Mas vc não esqueceu de nada como um vídeo ...?

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